E pronto, lá se passou mais um Carnaval, e quase Fevereiro se risca do calendário. Por falar em calendário, alguém deu por conta do Entrudo? Vim à janela de vez em quando a ver se via ou ouvia alguma coisa, e o que me aconteceu foi apanhar um frio de rachar. Fui até ao centro comercial, a ver se também via alguma coisa, limpei os óculos várias vezes, e descortinei umas crianças que, por debaixo dos kispos, deixavam antever uma saia de tules, umas calças de palhaço, um pouco de cor e de alguma coisa que não fosse habitual. Também lhes vi os rostos, não precisavam de máscara pois não escondiam a tristeza de ter algo vestido e tapado, que não "brilhavam" como tinha sido o desejo. Ver damas antigas, rainhas, e espanholas de sapatos de ténis, é triste. Ver zorros com as capas por cima dos anóraques, ainda é pior. E as princesas com as tiaras por cima dos barretes de lã? Só se safavam os pequenitos que de gato, tigre, Nódi, coelho lá andavam quentinhos e aos saltos, a rigor.
Lembro-me dos tempos em que a minha mãe ía comigo a uma senhora em Cascais que tinha um guarda-roupa especial de Carnaval, alugar o meu traje completo, que incluía o adereço de cabeça - chapéu, véu, tiara - e os sapatos - ou chinelas ou botas. Era a fatiota toda dos pés à cabeça. Um brio. Não participava em concursos mas nesses dias eu brilhava, fizesse chuva ou sol, porque estava agasalhada por debaixo do fato, e andava feliz da vida.
Que desconsolo foi ver os carnavais portugueses com as sambistas a tremer de frio, as penas desconsoladamente caídas, vergadas pela chuva, as pessoas a assistirem sentadas com mantas pelas pernas, enquanto o corso seguia ao som da "Cidade Maravilhosa" e era em Torres Vedras, a tal do Carnaval mais português de Portugal, a malhar nos políticos e politiqueiros.
No próximo ano vou até às aldeias, ao Norte ou no Alentejo. Aí sim, verei o que é o Carnaval português, o do povo e das suas tradições. Em que as máscaras se escavam na madeira, os panos saltam das arcas e dá-se a metamorfose para outro ser que parece retirado do bosque, uma força da natureza, que canta e dança ao som dos instrumentos da terra.
Até se calarem na Quarta-feira de Cinzas, prenúncio de Quaresma.
(Foto retirada da Internet - "Lazarim")
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